A Caverna
Cavo... cavem!
Cavo... cavem!
Cavo, cavem, cavamos,
cavamos na caverna
Estudo
Sinto-me pequeno
ante a estatura do poeta
e a solidez do seu imaginário.
Mas é preciso, preciso, preciso,
esse pouco de solidão
que o seu convívio me empresta.
Música ao longe na praia,
retrato na parede, lembranças,
a rosa escorrendo no asfalto.
O poeta se veste com fúria,
(o poeta, despido, declina),
todas as faces em uma.
A marcha dura, poeta.
Tarde de Junho
I
No labor de outro dia,
eu te encontro, tarde de junho,
te contemplo e te indago,
o que me trazes
de novo ou de antigo,
de iniciado ou de findo,
a mim,
que, incauto, te espreita?
A mim,
a quem nem tanto importa
teu sujeito e objeto,
teu melhor argumento
e tua tônica severa
com que enleias
amadores
mas sim, tua substância,
tua carne e crepúsculo,
prenúncio da noite,
em que homens se encontram,
se refugiam em copos
e matam
o que neles quer morte.
Tarde de junho,
tu que espias
a aurora selvagem,
suas cores perscruta
e em brancas nuvens se esvai.
II
Em algum ponto
da estrada,
eu ergo os olhos
e ouço
o vento e um grito
surdo
que na água
algum dia darei.
Metade de mim
te contempla,
teu véu rude e negro,
sem encanto aparente
ou marca de sedução,
um véu andarilho
que a tudo encobre,
entre presa e algoz.
Tarde de junho,
eu te alardeio
e tu vagas alheia
ao que sobre ti cai.